sexta-feira, abril 6
"A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta."Quem é você?", perguntou a Lagarta. Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.”"O que você quer dizer com isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!" "Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?" "Eu não vejo", retomou a Lagarta. "Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso." "Não é", discordou a Lagarta. "Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou, "mas quando você transformar-se em uma crisálida - você irá algum dia, sabe - e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?" "Nem um pouco", disse a Lagarta. "Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice, "tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim”. "Você!", disse a Lagarta desdenhosamente. "Quem é você?" O que as trouxe novamente para o início da conversação. Alice sentia-se um pouco irritada com a Lagarta fazendo tão pequenas observações e, empertigando-se, disse bem gravemente: "Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro.""Por quê?", perguntou a Lagarta. Aqui estava outra questão enigmática, e, como Alice não conseguia pensar nenhuma boa razão, e a Lagarta parecia estar muito chateada, a menina despediu-se. "Volte", a Lagarta chamou por ela. "Eu tenho algo importante para dizer!"Isso soava promissor, certamente. Alice virou-se e voltou. "Mantenha a calma", disse a Lagarta. "Isso é tudo?", retrucou Alice, engolindo sua raiva o quanto pôde. "Não", respondeu a Lagarta.Alice pensou que poderia muito bem esperar, já que não tinha nada para fazer, e talvez no fim das contas ela poderia dizer algo que valesse a pena. Por alguns minutos a Lagarta soltou baforadas do seu cachimbo sem falar; afinal, ela descruzou os braços, tirou o narguilé da boca novamente e disse: "Então você acha que mudou, não é?" "Temo que sim, Senhora", respondeu Alice. "Não consigo lembrar das coisas como antes - e não mantenho o mesmo tamanho nem por dez minutos!" "De que tamanho você quer ser?", ela perguntou. "Oh, eu não ligo para qual tamanho", respondeu Alice apressadamente, "apenas um que não fique mudando sempre, a senhora sabe." "Eu não sei", retrucou a Lagarta. Alice não disse mais nada: ela nunca fora tão contradita em toda sua vida antes e sentia que estava perdendo a paciência. "Você está satisfeita agora?", indagou a Lagarta. "Bem, eu gostaria de ser um pouco maior, Senhora, se não se importar", disse Alice, "oito centímetros é um tamanhozinho meio pequeno demais." "É um ótimo tamanho certamente!", vociferou a Lagarta, levantando-se enquanto falava (ela tinha exatamente oito centímetros de altura). "Mas eu não estou acostumada com isso!", alegou a pobre Alice em um tom consternado. "Você se acostumará com o tempo", retrucou a Lagarta, e colocou o narguilé na boca, começando a fumar novamente. Desta vez Alice esperou pacientemente até a Lagarta querer falar novamente. Depois de um ou dois minutos a Lagarta tirou o cachimbo da boca, e bocejou uma ou duas vezes e espreguiçou-se. Então desceu do cogumelo e arrastou-se para longe, simplesmente observando, ao sair disse: "Um lado irá fazê-la crescer e o outro irá fazê-la diminuir." "Um lado do quê? Outro lado do quê? ", pensava Alice consigo mesma. "Do cogumelo", respondeu a Lagarta, como se Alice tivesse falado alto, e já no momento seguinte ela estava fora da vista.
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